ESTUDOS SOBRE SÂO FRANCISCO




Terceiro livro
Milagres de São Francisco
Em nome do senhor, começam os milagres de nosso pai São Francisco
136. Uma mulher chamada Sibila, que sofria de cegueira havia muitos anos, foi conduzida ao sepulcro do homem de Deus como uma cega triste. Mas recuperou a primitiva visão e voltou para casa alegre e exultante. Um cego de Spelo recuperou diante do sepulcro do corpo sagrado a visão perdida havia muitos anos. Uma mulher de Camerino tinha perdido toda a visão do olho direito. Seus parentes lhe puseram sobre o olho perdido um pano que São Francisco tinha tocado e fizeram um voto. Depois deram graças ao Senhor Deus e a São Francisco pela recuperação da vista. Coisa semelhante sucedeu com uma mulher de Gúbio, que fez um voto e se alegrou com
a recuperação da vista. Um cidadão de Assis perdera a visão havia cinco anos e tinha sido conhecido de São Francisco durante toda a sua vida. Sempre rezava ao santo lembrando-lhe sua
familiaridade. Tocando seu sepulcro, ficou livre da doença. Um certo Albertino, de Narni, perdera de uma vez o uso da visão por quase um ano, e suas pálpebras lhe pendiam sobre o rosto. Encomendou-se a São Francisco e recuperou a vista imediatamente. Tratou então de ir visitar o sepulcro do glorioso santo.









Primeira Vida de São Francisco – Tomás de Celano.


Primeiro livro
Para louvor e glória de Deus todo-poderoso, pai, filho e espírito santo. Amém.
Capítulo 15
Fama de Francisco. Conversão de muitos. Como a ordem se chamou dos Frades menores. Instruções de são Francisco aos que entram na ordem
36. Francisco, o incansável soldado de Cristo, percorria as cidades e povoados anunciando o reino de Deus, proclamando a paz, pregando a salvação e a penitência para a remissão dos pecados, não em eloqüência persuasiva da sabedoria humana, mas na doutrina e na demonstração do Espírito. Apoiado na autorização apostólica que lhe tinha sido concedida, agia em tudo destemidamente, sem adular nem tentar seduzir ninguém com moleza. Não sabia lisonjear as culpas de ninguém, mas pungi-las. Nem sabia favorecer a vida dos pecadores, mas atacava-os com áspera reprimenda, porque já se havia convencido primeiro na prática das coisas que estava dizendo aos outros em palavras. Não precisando temer acusadores, anunciava a verdade sem medo, de maneira que até os homens mais letrados, que gozavam de renome e dignidade, admiravam seus sermões e em sua presença sentiam-se possuídos de temor salutar. Acorriam homens e mulheres, clérigos e religiosos para verem e ouvirem o santo de Deus, que a todos parecia um homem de outro mundo. Sem distinção de idade ou sexo, corriam todos a assistir a seus milagres, que Deus de novo operava por seu servo neste mundo. Na verdade, parecia que, naquele tempo, tanto pela presença como pela simples fama de São Francisco, tivesse sido enviada uma luz nova do céu para a terra, espantando toda escuridão das trevas, que a tal ponto tinha ocupado quase toda a região, que mal dava para alguém saber onde se estava indo. Tão profundo era o esquecimento de Deus e a negligência na observância de seus mandamentos, que quase não se conseguia tirar os homens de seus velhos e inveterados vícios.
37. Brilhava como uma estrela que fulge na escuridão da noite e como a aurora que se estende sobre as trevas. Dessa maneira, dentro de pouco tempo, tinha sido completamente mudada a aparência da região, que parecia por toda parte mais alegre, livre da antiga fealdade. Desapareceu a primitiva aridez e brotou a messe no campo áspero.
Até a vinha inculta se cobriu de renovos que espalham o perfume do Senhor e, dando flores de suavidade, carregou-se de frutos de honra e honestidade. Ressoavam por toda parte a ação de graças e o louvor, e por isso foram muitos os que quiseram deixar os cuidados mundanos para chegar ao conhecimento de si mesmos na vida e na escola do santo pai Francisco, caminhando para o amor de Deus e seu culto. Começaram a vir a São Francisco muitas pessoas do povo, nobres e plebeus, clérigos e leigos, querendo por Inspiração de Deus militar para sempre sob sua disciplina e magistério. O santo de Deus, como um rio caudaloso de graça celeste, alimentado pelas chuvas dos carismas, enriquecia o campo de seus corações com as flores das virtudes. Pois era um artista consumado que apresentava o exemplo, a Regra e os ensinamentos de acordo com os quais a Igreja de Cristo rejuvenescia, enquanto nos homens e nas mulheres triunfava o tríplice exército dos predestinados. A todos propunha uma norma de vida e demonstrava com garantias o caminho da salvação em todos os graus.
38. Mas o nosso principal assunto agora é a Ordem, que recebeu de Deus e na qual permaneceu pela caridade e pela profissão. Que diremos? Ele mesmo fundou a Ordem dos Frades Menores e nessa ocasião lhe deu o nome. Quando estava escrevendo na Regra: “e sejam menores”, ao pronunciar essas palavras disse: “Quero que esta fraternidade seja chamada Ordem dos Frades Menores.” De fato, eram menores, porque eram “submissos a todos”, sempre procuravam o pior lugar e queriam exercer o ofício em que pudesse haver alguma desonra, para merecerem ser colocados sobre a base sólida da humildade verdadeira e neles pudesse crescer auspiciosamente a construção espiritual de todas as virtudes. Em verdade, sobre o fundamento da constância
levantou-se a nobre construção da caridade, na qual as pedras vivas, recolhidas em todas
as partes do mundo, tornaram-se templo do Espírito Santo. Que caridade enorme abrasava os novos discípulos de Cristo! Quão forte era o laço que os unia no amor! Quando se reuniam em algum lugar, ou quando se encontravam em viagem, reacendia-se o fogo do amor espiritual, espargindo suas sementes de amizade verdadeira sobre todo o amor. E como? Com abraços fraternos, com afeto sincero, com ósculos santos, uma conversa amiga, sorrisos agradáveis, semblante alegre, olhar simples, ânimo suplicante, língua moderada, respostas afáveis, o mesmo desejo, pronto obséquio e disponibilidade.
39. O fato é que, tendo desprezado todas as coisas terrenas e estando livres do amor-próprio,
consagravam todo o seu afeto aos irmãos, oferecendo-se a si mesmos para atender às necessidades fraternas. Reuniam-se com prazer e gostavam de estar juntos: para eles era pesado estarem separados, o afastamento era amargo e doloroso estarem desunidos.
Religiosos obedientes, não se atreviam a opor nada aos preceitos. Antes de acabarem de receber uma ordem, já se preparavam para cumpri-la. Não sabiam fazer distinções de preceitos e executavam tudo que lhes era mandado, sem fazer reparos. “Seguidores da santíssima pobreza” porque não tinham nada, nada desejavam, e por isso não tinham medo de perder coisa alguma. Estavam contentes com uma única túnica, remendada às vezes por dentro e por fora: não lhes servia de enfeite, mas de desprezo e pobreza, para poderem mostrar claramente que nela estavam crucificados para o mundo. Cingiam-se com uma corda e usavam calças pobres, fazendo o piedoso propósito de ficar simplesmente assim, sem ter mais nada. Naturalmente, estavam seguros em qualquer lugar, sem nenhum temor, cuidado ou preocupação pelo dia seguinte, nem se incomodavam com o pouso que teriam à noite, em suas freqüentes viagens. Pois, como
muitas vezes nem tinham onde se abrigar do frio mais rigoroso, reuniam-se ao redor do fogo ou se escondiam humildemente, à noite, em grutas ou cavernas. Durante o dia, os que sabiam trabalhavam com as próprias mãos, visitavam as casas dos leprosos ou outros lugares honestos, servindo a todos com humildade e devoção. Não queriam exercer ofício algum que pudessem causar escândalo, mas, fazendo sempre coisas santas e justas, honestas e úteis, davam exemplo de humildade e de paciência a todos.
40. Tinham adquirido tanta paciência que preferiam estar nos lugares onde os perseguiam e não onde poderiam conseguir os favores do mundo, porque todos conheciam e louvavam sua santidade. Foram muitas vezes cobertos de opróbrios e de ofensas, despidos, açoitados, amarrados, encarcerados, desprotegidos de todos, e suportavam tudo varonilmente, vindo à sua boca apenas a voz do louvor e da ação de graças.
Poucas vezes, ou nunca, deixavam de louvar a Deus ou de rezar, mas estavam sempre lembrando uns aos outros tudo que tinham feito, agradecendo a Deus pelas coisas boas, gemendo e chorando pelas negligências e descuidos. Julgavam-se abandonados por Deus se não fossem por Ele visitados com a piedade habitual no espírito da devoção.
Para não dormirem quando queriam rezar, usavam algum expediente: uns se amarravam com cordas para que a chegada do sono não perturbasse a oração, outros se cingiam com cilícios de ferro e ainda outros rodeavam a cintura com aros de madeira. Se alguma vez a abundância de comida ou de bebida, como pode acontecer, perturbava sua sobriedade, ou pelo cansaço do caminho passavam além da necessidade absoluta, mortificavam-se duramente com uma abstinência de muitos dias. Afinal, punham tanto esforço em reprimir as tentações da carne, que muitas vezes não se horrorizavam de despir-se no gelo mais frio, nem de molhar o corpo todo com o sangue derramado por duros espinhos.
41. Era assim que lutavam valorosamente contra todas as vontades terrenas, a ponto de mal se permitirem receber as coisas extremamente necessárias para a vida, e estavam tão acostumados a passar sem as consolações do corpo, que não lhes inspiravam medo os maiores sacrifícios. Em tudo isso guardavam a paz e a mansidão com todas as pessoas e a reta intenção e o espírito de paz lhes permitiam evitar cuidadosamente todo escândalo. Apenas falavam quando era necessário e de sua boca nunca saía nada de inconveniente ou ocioso: em sua vida e procedimento não se podia descobrir nada de lascivo ou desonesto. Seus gestos eram comedidos e seu andar simples. Tinham os sentidos tão mortificados que mal pareciam ver ou ouvir senão o que lhes estava
pedindo a atenção. Tinham os olhos na terra, mas o pensamento no céu. Nem inveja, nem malícia ou rancor, nem duplicidade, suspeição ou amargura neles existiam, mas apenas muita concórdia, calma contínua, ação de graças e louvor. Era com esses conselhos que o piedoso pai formava seus novos filhos, não só com palavras e doutrina, mas em verdade e com o exemplo.
Profº Haimann | 11/02/2015 às 10:42 | Categorias: Fontes Franciscanas | URL: http://wp.me/p1a4It-9rN

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